SEGUNDA SESSÃO…

Para quem resistiu por muito tempo em fazer análises e psicanálises, confesso que fiquei ansiosa por uma outra sessão, tanto que estou aqui, pronta para retomar de onde parei… hoje com mais coragem e honestidade.

Cheguei a um ponto da minha vida que para consertar certas coisas é quase impossível! Admitir certos tropeços é insano e também porque não resolveria muita coisa.

Sabe, tenho convivido muito com pessoas enfermas. Já se vão quase duas décadas cuidando de entes queridos e não tão queridos.

Conviver constantemente com doenças acaba por nos contaminar! As energias são sugadas de tal maneira que sentimos um cansaço físico e mental de grau avançado. É como se fôssemos vampirizados.

Não! Não diga nada não… mas meus ossos doem e meu corpo parece que vai partir ao meio a cada instante!

Percebo que envelheci a toque de caixa! Perdi o viço! Busco força e beleza num oásis que nunca alcanço.

É uma tortura acordar a cada dia!!!

Não queria admitir, porém tenho chorado muito e às escondidas e depois sido mentirosa em dizer que tudo está bem!

Para ser absolutamente sincera, pouca coisa vai bem.

Tenho tido vontade de ficar o dia todo na cama, coisa que nunca senti! Também tive vontade de sumir, para um lugar onde fosse impossível de me encontrar, como a história do homem que saiu para comprar cigarros e unca mais voltou…

Muitas pessoas me dizem que a gente tem escolha! Que eu poderia fazer escolhas diferentes das que eu tenho feito! E se fiz estas escolhas que eu não reclame… só que eu não escolhi cuidar de uma avó doente e depois de um avô doente, um pai doente e de uma mãe doente. O entrave veio até mim e eu tinha que aceitar ou aceitar…

Diga-me se sou errada, mas se eu não escolhesse isso (se é que podemos chamar de escolhas certas resoluções) estes meus entes queridos e não tão queridos não teriam para onde ir…

Talvez tenha feito escolhas minhas e as dos outros também, mas o que fazer, pelo amor de DEUS!!! O que fazer quando ninguém faz as escolhas e daí as coisas chegam até você sem escolhas, aliás, os outros fizeram suas escolhas… a de não aceitar os problemas e jogá-los assim, diretamente no meu colo!

Tem uma brincadeira que eu fazia em sala de aula que se chamava BATATA QUENTE, conhece? Eu fazia uma roda com meus alunos e dava uma bola de meia para que eles fossem passando um a um enquanto um aluno ficava de costas e depois de um certo tempo ele gritava – BATATA QUEEEEENTE! – e aquele que estivesse com a bola na mão tinha que pagar uma prenda. Lembro-me muito bem que havia crianças que usavam de sacanagem, que quando gritavam que a batata estava quente, mesmo com a bola na mão jogavam no meio da roda… havia criança que chorava, porque não queria pagar a prenda que seria solicitada.

Como queria ser criança e jogar a bola no centro da roda. E você então me dirá – VOCÊ PODE FAZER ISSO! Mas eu não posso… Se eu jogar a bola longe, ninguém irá pegá-la e, pessoas que tem menos chances de escolha do que eu irão sofrer as consequências.

Não quero carregar todas as dores do mundo, não pense que quero, só que não me restam muitas alternativas favoráveis.

Faz anos que eu não sei o que é sair descontraidamente, para viver um pouco de ócio. Tudo é cronometrado!

As poucas vaidades que eu tinha se foram…

Meu rosto enrugou-se num estalar de dedos!

Meus cabelos ficaram brancos de uma hora para outra!

Eu sorria! Todos os dias eu tinha um sorriso estampado no rosto e ele se foi…

Bem, eu também tenho que ir… já lhe vi olhar para o relógio três vezes.

Será que irá me aguentar por um tempo grande ou irá me indicar a outro divã…?

Mais um tempo acaba… mais uma sessão chega ao fim…

Eu nem comecei! O novelo ainda está nas minhas mãos e não cheguei a ponta dele.

É bom! Você nada fala! Apenas me ouve, ora atenta e ora desatenta que sei. Peguei-lhe várias vezes distante… bem mais distante do que eu…

Não importa! Descobri que é bom vir aqui porque me ouve!

Semana que vem estarei aqui e vou lhe contar coisas ainda mais doidas e sem nexo, mas a VIDA é assim! Como diria um amigo – um punhado de areia que se escorrega das mãos.

Uma ILHA DE SILÊNCIOS me guarda… me esconde de vez.

Uma fenda se abre para que eu me consuma inteira, dentro dela.

Um penhasco!

Um abismo!

Uma faísca de esperança!

Até mais.

Já deixo marcado com a secretária meu retorno e, se não puder ou não quiser vir, eu aviso, porque ainda é de bom tom preservar algumas gentilezas e boas maneiras.

DIVÃ DAS LETRAS

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