Deixei de ser colunista por inúmeros motivos.
Não escrevo somente crônicas, poesias ou prosas.
Não sou mera escrivã, que tece a poética da vida somente entregando o lado afável que as letras, juntadas em palavras, podem construir.
Sou uma observadora de comportamentos, gestos e atitudes.
Hoje, em cada esquina há alguém querendo escrever um livro e, confesso, sem demagogias ou superficialidades, que todas as pessoas são dignas de escreverem o que bem lhes for importante.
Nesse fluxo, atualmente, temos um cenário caótico: mais escritores do que leitores; leitores que são escritores; escritores que nunca foram leitores, leitores que nunca serão escritores; escritores que jamais serão capazes de ler, mesmo aquilo que escrevem.
Uma luta sôfrega e desenfreada por descarregarem no mundo suas autobiografias, muitas vezes sem coerência ou coesão, pois tenho lido muitos escritores próximos e encontrado excelentes conteúdos, conteúdos superficiais, escritas imbuídas de inteligência artificial, devorado em questão de horas obras inteiras que mereciam ser lidas e outras deixadas pela metade, ou logo de início, por serem muito ruins, carregadas de erros grassos da língua e da gramática que o escritor tem por obrigação, que dominar, pois editora não revisa obra, apenas cobra e passa por corretor gramatical e ortográfico da tecnologia, essa, muito falha.
Mas o pior de tudo não é esse movimento desencadeado pelas ações humanas, afinal, sonhos são sonhos e devem ser realizados. O pior de tudo é a agressividade com que se ergue esse cenário – geralmente um ambiente hostil, cheio de rivalidades e vaidades.
Cada qual trabalha para si.
Nos últimos cinco lançamentos que participei como convidada observei várias performances grotescas:
– Os equipamentos públicos nem sempre estão disponíveis e, quando estão há uma diferença gritante de acolhimento ao escritor.
– O setor cultural comparece ao evento de escritores/celebridades, ou seja, escritores, ainda que independentes, mas que possuem um certo STATUS no meio social. Esses sempre são prestigiados com reverência, ainda que sua escrita seja tacanha.
– Autoridades políticas comparecem somente nos lançamentos de escritores que foram cabos eleitoreiros, em suas campanhas.
– Quando há um ambiente de “pão e circo”, com altas badalações, o envolvimento e bajulações exacerbadas são extremamente visíveis e o inchaço de convidados é plenamente notável.
Com tudo isso ocorrendo, o círculo de escritores independentes vai tomando um curso vazio e que caminha para o abismo.
O que ocorre nisso tudo, para mim, que sempre fui muito envolvida com o coletivo e a sua solidificação, é desatino.
Compreendo que somos seres individuais e que devemos buscar pelo nosso sucesso, de maneira única, pois é salutar e saudável, mas optar pelo egocentrismo, no meu olhar, enquanto um ser inserido num meio social e num segmento artístico, é inconcebível.
Outro comportamento que tenho observado com afinco, estando à frente de uma entidade, exclusivamente, de cunho literário, é a ausência de luta pela causa.
– Muitos chegaram até nós sem mesmo saber por onde começariam sua jornada como escritor, por não saberem sobre os percalços do processo de criação, quiçá, das mazelas do meio editorial, este que engole a ingenuidade dos sonhos alheios.
– Cada qual vaga solto, projetando eventos, muitas vezes sem público.
– Os lançamentos são cada vez mais vazios, ou seja, o escritor deixou de prestigiar o escritor.
– Falta de companheirismo.
Não somos deidades…
Não somos capazes de estar em todos os lugares ao mesmo tempo, mas eu me pergunto e também questiono, a mim e aos demais, o que ocorreu, ao longo dos últimos anos, onde tivemos mais de 30 poetas participando de uma antologia, onde o lançamento dessa antologia esteve repleto de pessoas que confraternizaram com a poesia, literatura, amizade e, no lançamento seguinte, tivemos apenas 8 convidados?
O que acontece, com os amigos, principalmente aqueles que estão próximos da nossa localidade, mostrarem eventos depois de executados, sem ao menos convidar seus pares?
Aconteceram Feira e Eventos Literários dentro de escolas, e escritores participaram individualmente, sem ao menos estenderem os convites à associação que eles fazem parte, como se o fato de convidarem seus pares fosse ofuscar as suas atuações individuais.
O que houve com as noites de autógrafos, onde tínhamos em torno de 30 escritores presentes e hoje esse número se resume a menos de 10?
Oras, há um sol para cada cabeça!
A APESUL – Associação de Poetas e Escritores do Sul de Minas, tem, incansavelmente, procurado elaborar e executar atividades coletivas para fortalecer, verdadeiramente, a classe, e mais uma vez, digo, que observo, uma inconstância e desinteresse, por parte da maioria.
A APESUL já foi a menina dos meus olhos, eu a planejei, eu lancei a semente e algumas pessoas acreditaram. Criei um estatuto do nada e registrei com dinheiro do próprio bolso, porque sabia da dificuldade de cada um – não que eu não tivesse dificuldades. Ela não teve injeção de órgãos culturais ou ajuda de cunho político, porque sempre, os seus dirigentes, preservaram a imparcialidade e a autonomia em sua atuação.
São raros os escritores realmente envolvidos e comprometidos com a jornada.
Não há associação sem participantes.
Uma associação é sinônimo de pessoas trabalhando juntas por uma causa que elas acreditam.
Então, novamente invoco a minha observação, concluindo, claramente, que o nome da APESUL só é elevado para preencher portifólio, rechear currículos, desempatar e pontuar em concursos, assim, sempre que é conveniente para alguns.
Para o criador de um projeto que visa a participação ampla de todos aqueles que têm, por ofício, dom, missão, profissão, passatempo ou qualquer outra denominação, é muito triste ver e sentir alguns descasos.
Cada qual está vivendo para si.
Sim, a cadeia de escritores independentes, veja bem, e aí há equívocos, pois muitos entendem por escritores independentes aqueles que produzem integralmente suas obras, pagando por elas, sem passar por editoras e, outros que fazem o mesmo processo por meio de editoras e se intitulam independentes por serem eles os que custeiam totalmente seus livros e, sendo assim, as duas formas de independência são consideradas corretas, vai aumentando em volume, em quantidade, mas não em excelência e robustez.
A fugacidade atual e a invasão em massa das redes sociais chegam a ser desagradáveis e, não por parte daqueles que escrevem as obras, mas das editoras que publicaram essas obras.
O escritor desconhecido, que está tentando se estabelecer, passa por vários engodos.
A partir do momento que ele envia sua escrita à editora que será responsável por todo o processo de editoração, ele chancela o total poder de fazer o que quiserem com a sua obra, tendo maior domínio sobre ela do que ele próprio, que é o produtor intelectual da arte, porque, escrever, é a ARTE mais BELA que conheço, e que me perdoem as demais áreas artísticas se, assim, quiserem.
As editoras ficam com os arquivos dos livros que elas produzem e, lançam as vendas desses livros em suas plataformas, muitas vezes sem passar um tostão aos escritores, onde o acompanhamento dessas vendas são confusos e, quando descobertos, o estrago já está feito.
Eu mesma passei por isso, pois a ganância comercial de editoras que me publicaram minhas obras, era tão grande, que meus livros infantis foram vendidos em massa numa distribuidora nacional, sem nunca eu ter visto um centavo.
Porém me parece que o escritor quer ser levado pelo canto da sereia e o interesse, por se estabelecer, como aquele que tem uma obra a oferecer no segmento literário, é a última coisa a ser pensada.
Precisamos começar a compreender e fazer o exercício disciplinado da reflexão, nos perguntando: “Por que eu escrevo? Por que eu publico? Quem é meu leitor? Eu realmente sou lido? Faço a diferença ou sou apenas mais um? Escrevo para mim? Se escrevo para mim, por que faço a impressão de centenas de exemplares?
Esse ato efetuado com sinceridade é muito importante para não sermos engolidos ou enredados por pessoas que estão assumindo os espaços que estamos deixando preparados para elas.
Você, enquanto escritor, já se perguntou, quanto você tem perdido ao longo de todos os seus processos criativos?
Enquanto escritor consegue ver quantas pílulas e fórmulas mágicas lhes são oferecidas para que se torne um escritor Best Seller?
Consegue vender todos os exemplares que publica, para que possa, com esse fluxo de caixa que investiu, publicar uma nova obra?
Já percebeu que as editoras nunca perdem, porque elas ganham por cada serviço executado?
Compreende que não ganha pelo seu processo criativo? Ou seja, a porcentagem que recebe pela venda de um livro não paga, muitas vezes, nem o translado para um evento de lançamento ou, toda a estrutura que é envolvida para que um lançamento aconteça?
Já notou que as editoras não entregam o produto antes que ele seja totalmente pago, então, caso haja prejuízos e, eles geralmente existem, é de responsabilidade do escritor?
É urgente que nos unamos, pois as BIENAIS e demais eventos, utilizando o nome da LITERATURA, têm acontecido em excessos, mas os escritores independentes, não estabelecidos, desconhecidos ou seja lá quem forem eles, são deixados à margem, porém são os propulsores desses acontecimentos tsunâmicos, mas não se unem, por não compreenderem que uma teia mais densa é capaz de apertar o espaço dos espertinhos de plantão.
Os eventos literários chegam até os escritores como se eles fossem as estrelas e os escritores meros figurantes.
Vendem areia ao deserto e o deserto compra sem questionar.
Eventos de literatura sendo feitos por quem nunca leu ou escreveu uma linha sequer, mas que fez a lição de casa direitinho, reconhecendo cada palmo do terreno das palavras e o quanto elas impunham valores que o próprio escritor desconhece.
Acordemos para a vida, evitando assim que nos tirem, descaradamente, a nossa essência – que é nosso bem maior, o prazer e o deleite de encantar o mundo com nossas palavras.
Não é preciso sermos um só!
É preciso que sejamos indivíduos ímpares e com uma nesga de egoísmo, mas que esse egoísmo, essa busca pela nossa marca, pelas nossas referências e necessidade de nos estabelecermos ultrapassem tudo aquilo que nada acrescenta.
Respostas de 2
Um desabafo necessário.
Vida longa a Apesul e que siga firme e unida.
Palavras necessárias que expressam o que eu também penso e observo. Essas reflexões me permitem enxergar melhor as situações (e pessoas) no futuro.