Crônica

O Café da Esquina

Era uma tarde comum de domingo, dessas em que o tempo parece andar mais devagar. Na esquina da Rua das Palmeiras, o pequeno café ainda exalava o aroma doce de bolo recém-saído do forno. A placa pendurada na porta dizia “Aberto”, mas quase ninguém entrava.

Na última mesa, ao lado da janela, Dona Lúcia estava sentada com sua xícara de café preto. Aos 78 anos, ela fazia daquele lugar sua segunda casa. Sempre com um caderno de capa dura em mãos, escrevia suas memórias em letras firmes e elegantes, como se o tempo jamais tivesse passado por seus dedos.

Enquanto isso, a garçonete Marina, uma jovem de olhos curiosos, observava Dona Lúcia de longe. Fazia meses que trabalhava ali e nunca tivera coragem de perguntar o que tanto a senhora escrevia. “Histórias dela, talvez?”, pensava, entre servir mesas e limpar xícaras.

Naquele dia, a curiosidade venceu a timidez. Marina levou à mesa uma fatia de bolo de laranja e sorriu:
— Está escrevendo um livro, Dona Lúcia?

A idosa levantou os olhos e respondeu com a voz suave, mas cheia de convicção:
— Escrevo lembranças, minha querida. Palavras que não quero perder.

Marina ficou intrigada.
— E o que a senhora faz com essas lembranças?

Dona Lúcia sorriu, olhando para o caderno.
— Guardo-as aqui. Um dia, quando eu não estiver mais por aqui, quem as encontrar saberá que vivi, amei, sofri e fui feliz.

Marina sentiu um nó na garganta. Nunca tinha pensado que simples palavras poderiam carregar tanto da vida de alguém. A partir daquele dia, começou a anotar pequenos momentos do seu cotidiano, inspirada pela força da memória de Dona Lúcia.

E o pequeno café da esquina continuou a ser mais do que um lugar de cafés e bolos. Ali, entre mesas e cadeiras, histórias eram vividas, escritas e compartilhadas, transformando o ordinário em algo extraordinário.

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