FRATURAS…

Eu mudei!

Mudei porque muitas vezes a vida pede mudanças.

Eu já fui mais doce, porém com os longos anos de exposição às agruras, acabei por me amargar, ficando mais cética, cismarenta… meio bicho do mato.

Algum fio esbarrou num trecho mais apertado, enroscou, desligou.

Eu, então, estou desconectada, tentando me religar.

Foi assim, em questão de segundos, tudo o que era grito ou berros, silenciou, mas nem por isso a paz se instalou.

Eu estou só!

Eu me sinto só!

Eu quero estar só!

Eu preciso da solidão.

Preciso da solidão que dói, no desejo que depois de tudo ela me traga companhias mais amenas… mais alento ou mansidão.

Há coisas que se quebram e mesmo utilizando a técnica Kintsugi, que dizem deixar as marcas mais belas, no meu caso, as rachaduras, mesmo adornadas do mais fino ouro, mesmo realçadas com os mais sinuosos traços, jamais me farão voltar a ser o que eu era.

Creio que o tempo não volta.

Creio que o que passou, já se foi e é bom deixar que realmente se vá.

Ontem já não está mais aqui, porém o agora traz a poeira de ontem.

Eu me vejo no hoje, entre um mar de inquietudes, onde nau alguma pode manter-se na superfície.

É nessa superfície turbulenta desse mar que eu preciso me equilibrar.

Nessas ondas nauseantes que eu me exploro.

É nesses momentos de profusão, onde eu não acho outras mãos, que eu mergulho, para me buscar lá embaixo e trazer-me à tona.

Eu sou complexa!

Sou as escamas e as espinhas!

Sou as vísceras mais abjetas.

Mas não se preocupe!

Eu me reconheço… eu me assumo…

Eu me conserto e me perpetro do ato mais vil e criminoso.

Eu me ajeito, pois tem sido assim há mais de meio século.

Eu fui só no ventre.

Eu fui só em todas as luas crescentes.

Fui só em densos rios de águas correntes.

Sou só em dias de sol quente.

Estou só, no meio de toda essa gente.

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