Esses dias me disseram para procurar um psicólogo.
Isso mesmo! Disseram que seria bom eu conversar com uma pessoa que não me julgasse e que, acima de tudo, me ouvisse.
No primeiro momento pensei, “pois é, faltam ouvintes ao nosso redor…”
Mas no segundo momento analisei o que havia ocorrido, antes daquela indicação, sugestão, intenção…
A pessoa que me indicou a milagrosa terapia profissional não conhece meus dias. Não sabe o que acontece desde quando abro os olhos, logo pela manhã, até a hora de tombar meu corpo na cama, para descansar o físico, o mental e o espiritual.
A pessoa em questão não me via fazia quase um ano, então não podia saber que, meus cabelos estão grisalhos por opção, faz quase quatro anos que deixei de pintá-los; optei por usar roupas menos alinhadas por conforto, porque aqui em casa o “BATIDÃO” é gigante.
A pessoa não sabe que, antes de eu cuidar de mim, todos os dias, há quase 15 anos, eu já acordo sabendo que tenho que tirar alguém da cama, ou seja, primeiro cuidar do outro, para depois cuidar de mim, e que isso para mim é normal, apesar de me irritar em algumas manhãs, afinal, sou HUMANA!
O que parece absurdo para muitos, para mim é absolutamente aceitável. E justo!
Não! Eu não estou depressiva.
Não! Não estou irritada com as dores que sinto… Nem as físicas e nem as mentais. Elas já fazem parte de mim e eu aprendi a conviver com todas elas.
Eu só não gosto que me “encham o saco”, falando assim, bem indelicadamente.
“NÃO QUERO QUE ME TIREM DO MUNDO QUE EU CRIEI PARA ME PROTEGER, PARA ME DEFENDER E, ACIMA DE TUDO, PARA ME AJUSTAR ÀS RESPONSABILIDADES, QUE NÃO TRANSFIRO A NINGUÉM.”
Realmente não preciso de um psicólogo!
Perdoem-me os profissionais de plantão, pois conheço muitos deles e uma boa parte são pessoas conhecidas, mas acho tão estranho sentar-me à frente de uma pessoa, geralmente que não usa meus sapatos, e que me ouve, muitas vezes bocejando (eu já cheguei me consultar com uma psicóloga que durante a minha sessão bocejou cinco vezes (tenho o hábito de contar gestos)), fazendo interferências soltas do tipo: você precisa pensar mais em você; a vida só muda se você mudar; pense em fazer de maneira diferente; dê uma guinada de 360°… Se eu der uma guinada de 360° voltarei ao mesmo lugar.
Conheço profissionais da área psicológica que têm a vida mais escangalhada do que a minha, não conseguem se reconhecer dentro do quadrado onde vivem e distribuem panfletos anunciando seus serviços terapêuticos/psicológicos.
Estamos realmente chegando bem perto do APOCALÍPSE, aonde as redes, ou melhor, as teias de aranhas virtuais nos sufocam, oferecendo pílulas de felicidade.
Gente tão dolorida querendo cuidar das dores alheias…
Acho que a psicologia funciona para alguns espaços e para outros é apenas um mote sem muita coerência.
Realmente, que me perdoem os profissionais que escolheram essa profissão.
Já presenciei, nas minhas longas estadias pelos hospitais, enquanto acompanhante dos meus pais em suas internações, profissionais que atendiam outros, que estavam no mesmo quarto que meu pai ou minha mãe, assim, fazendo uma sessão aberta, expondo o doente nas suas mazelas.
Certa manhã uma psicóloga entrou no quarto onde minha mãe e mais uma senhora estavam e o atendimento culminou num mal estar que precisei pedir, com muita delicadeza, que trocassem minha mãe de quarto.
O ser humano é complexo!
Na verdade, tudo é questão de delicadezas, de gentilezas, de doçuras…
Tudo é questão de estender as mãos, fazer leves sugestões, porque não dá para determinar com precisão do que o outro precisa ou deseja para si.
As ações mais humanas, com o ser humano, curam mais do que muitos conselhos vazios, que em sua maioria não são significativos, porque para mim, a vida e tudo o que ela implica, precisa de significados que façam sentido.
É óbvio que existem profissionais excelentes e também mais óbvio que há tantas pessoas que criam uma dependência tão grande de infinitas sessões, e eu respeito.
Eu ainda acredito, que para mim, a melhor sessão psicológica é sair com os amigos, receber abraços, elogios, empatia… Ainda é uma grande terapia tomar um café com a Valéria, a Eliana, o Augusto, o Expedito, pelas cafeterias da cidade… Amo o bolo de coco com abacaxi da Cafeteria Grão da Terra ou o café especial da Cafeteria e Adega Serafim… Adoro os entardeceres literários ouvindo as risadas sonoras do Gustavo Uchôas e a quietude do Marangão.
Passo horas lendo as obras escritas pelos amigos que fazem parte do meu cotidiano e, para mim, são pílulas de inspiração.
Gosto demais dos jantares que fazemos em casa, com a Ingrid e o Hugo, onde a noite acaba em sorrisos e amizade.
Terapia é levantar logo pela manhã e poder ver as hortaliças que o Pepê tem cultivado nos vasos… Já chegamos a ver crescer pé de mato e depois rir porque não geraram frutos, mas criaram boas expectativas.
Para curar o outro tem que ter muito tato!
O mundo do outro é território sagrado que vem sendo corroído pela solidão, pelas asperezas, invasões e deselegâncias.
Estou grisalha porque optei por deixar meus cabelos embranquecerem, pois não havia mais graça e nem necessidade de tinta sob minha cabeça, portanto, não é falta de cuidado ou depressão.
Ficar o dia todo de pijama em casa é uma opção e não depressão.
Não querer sair de casa a todo instante é amadurecimento e escolha do que me apetece ou não e, não é depressão.
Eu não tenho motivos para estar deprimida.
Apesar de todos os percalços, minha vida é tranquila. Faço só o que gosto.
Acima de tudo, pago meus impostos e não crio situações que promovam gatilhos (esse termo tão usado, ultimamente).
Não tenho segredos e nem fantasmas por debaixo dos tapetes, aliás não tenho muitos tapetes.
Meus segredos e minhas ficções são apenas concepções estruturais das minhas histórias, das prosas poéticas, dos sonhos que não sou obrigada a explicar ou desenhar para ninguém.
Oras, enquanto muitos fazem terapias eu faço crochê, leio, escrevo, transvisto das minhas personagens, crio princesas, derrubo castelos, pinto campos extensos de flores imaginárias e reais.
EU SOU FELIZ!
MINHA MENTE BRILHA por excesso de imaginação, igual à Anne de Green Gables.
Não há tristeza que me contamine!
Se estou mal eu minto – digo que está tudo bem porque tenho a certeza que as coisas se acomodam sempre e os finais de tudo culminam em apoteoses, dignas de aplausos.
Abro minhas janelas sabendo o que encontrarei, lá fora, e com a certeza que eu posso escolher o que me é mais favorável.
E, com toda certeza, sei que muitos terapeutas farão uma análise profunda desse meu texto, mas não me importo por saber que somos alvos de estudos, críticas, pesquisas e afins o tempo todo.
E agora, com a sua licença, pois tenho tantas coisas para fazer que a minha sessão terapêutica terá que esperar, termino minha catarse.
TER A PIA para lavar as louças é a melhor TERAPIA.
Não me levem por mal, mas eu tenho plena certeza que sou ANORMAL.
O resto, muitas vezes é só cansaço, mas, cansaço é igual vontade – dá e passa…