NOMENCLATURAS

Acordei, afinal, acordamos todos os dias.

Uns ficam na cama, remoendo a vontade de levantar, mas eu, na maioria das vezes, levanto de um pulo só.

Pronto! Estou de pé…

E com isso o dia começa, no balanço das horas, onde tudo pode acontecer.

Eu não funciono logo pela manhã.

Só vou tomar conta que o dia está passando, no início da tarde.

As manhãs para mim são sagradas.

Se dizem que precisamos quebrar a rotina, digo que a minha rotina não se quebra.

A minha rotina é rígida, como a rigidez pós-morte.

É rígida porque me proporciona sensações agradáveis de me organizar, se ser livre para fazer o que quero.

Durante a manhã dou conta de todos meus afazeres e fazeres necessários para arranjar o resto do dia.

Mas nas tardes, até altas horas da noite, eu sou leve e solta, dada aos desfrutes de não fazer nada.

Espraio a mente, construo mosaicos coloridos de ideias… viajo dentro de vazios.

Os vazios são tão criativos e nos proporcionam tantos caminhos floridos com portas abertas para a felicidade.

Foi nesses vazios que descobri as limitações humanas de não sairem dos seus quadrados… De se entregarem a um mundo uniforme e pragmatizado em conceitos.

Foi depois da manhã, logo no início de uma tarde, quando as pernas ficam para o ar, que constatei que desvencilhar dos excessos é uma libertação.

Não precisamos saber tudo!

Literalmente não precisamos saber tudo!

Aliás, é bem prudente e saudável que não enchamos a mente e nem a alma de tantas coisas que não nos levam a lugar algum…

Constatei o quanto é preciso desmontar as NOMENCLATURAS – essa precisão patética que temos de nomear tudo.

Não! Não precisamos nomear nada.

É preciso deixar apenas as coisas fluirem… Tanto as coisas boas quanto as ruins.

Sorver cada nuance de sentimentos e sensações, interiorizando desejos, sonhos, vontades…

Para ser FELIZ e fazer aqueles ao nosso redor felizes é necessário apenas seguir o fluxo das levezas, desapegando dos pesos que só nos causam dores e nada acrescentam.

Nomear monstros que ocupam espaços é o mesmo que cavocar feridas até sangrarem.

Eu confesso que não funciono, logo pela manhã.

Elas requerem responsabilidades…

Mas as tardes e os inícios das noites são reservadas para momentos de ociosidade e, são esses momentos de extensas lacunas que me fazem ser o que sou.

Devagar ou depressa, dentro das pressões ou calmamente, a vida passa…

Serão sempre as 24 horas e, para mim, elas me bastam.

Benditos sejam os momentos de não se fazer nada, pois hoje em dia eles estão em falta!

Eu tenho agarrado meus espaços amplos, completamente sem decorações ou badulaques, sem NOMENCLATURAS, sem apetrechos desnecessários e, dentro de um minimalismo, tenho edificado o encantamento esquecido.

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