Joaquim acordou com a sensação de que algo estava errado. Procurou a chave da casa: nada. Vasculhou os bolsos, o criado-mudo, a mesa da cozinha. Esqueceu onde havia deixado o telefone. Às vezes nem lembrava que tinha telefone. O chapéu, que sempre repousava no cabide, sumira como fumaça.
Saiu para a rua com o coração acelerado. As pessoas passavam por ele como sombras. Tentou lembrar o destino, mas a mente era um quarto escuro.
No banco da praça, sentou-se e fechou os olhos. O vento trouxe o cheiro de pão quente. Tentou agarrar a lembrança de uma padaria, mas ela se desfez.
De repente, uma voz suave:
— Papai?
Ele abriu os olhos. Uma moça sorria, os olhos marejados. No colo dela, um chapéu amarrotado. Na mão, uma chave. No bolso do casaco, um celular velho.
— Eu… conheço você? — perguntou ele, trêmulo.
Ela respirou fundo.
— Sim. E amanhã, quando esquecer de novo, eu estarei aqui. —
Joaquim não sabia se chorava pela perda ou pelo amor que, de alguma forma, ainda sentia.
Respostas de 4
1mmvg8
❤️👏👏👏🙏lindo! Obrigada, Malu Silva! Parabéns ao autor Marcus Madeira!
O Marcus Madeira é um amigo escritor, radialista, advogado, jornalista e tem um jornal eletrônico excelente.
61i2oi