VERSOS DE ÚLTIMA HORA…

Versos de última hora são composições simples, quase ingênuas, com uma semântica aparentemente óbvia, sem intenções.

Versos meticulosamente soltos, jogados ao acaso sem a pretensão de ser poesia que, diante da vida vivida, quer só sair e brotar, depois florir diante dessa minha nata melancolia.

Melancolia precisa de flores coloridas que desenhem a extensa margem dos sonhos, quando estes são escuros.

Melancolia não é dor. É só uma sensibilidade aguda, não compreendida por tantos.

Não é estado de pranto, afinal, choro somente de emoção.

Melancolia não é tristeza e nem raiva, mas é um sentir e sentir-se profundo, daquilo que dentro de mim não dá para estancar.

São luzes, plânctons fora do mar, sargaços, fendas, vãos, intermitências, carências, asperezas, delicadezas incompreendidas, gentilezas não recebidas, dissabores, estigmas, cicatrizes vívidas e desbotadas, infinitas sinapses que não se conectam com os neurônios, fluição, fruição e silêncios – extensos silêncios tão necessários para preencher os vazios que conheço e desconheço.

Assim escrevo e subscrevo-me para aqueles e, somente àqueles que, se propõem, com generosidade, a desbravar a alma do outro, com profundo carinho e complacência, como se a alma fosse toda sua, toda própria.

Declaro uma redenção de mim mesma, que preciso tanto de paciência para edificar em mim um oratório sagrado composto por deuses que desconheço – deuses maiúsculos e minúsculos.

E, na última hora, percebo que esqueci de tantos outros versos, então me atrevo a juntar todas as linhas já desenhadas, rabiscadas e com elas componho uma outra sinfonia com poemas feitos de pó…

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