ENTRE FATOS ANTIGOS E ATUAIS…

Eu tenho tantas coisas para falar.
Coisas sérias, importantes, pertinentes.
Eu observo o mundo e tenho pontos de vistas, mas não posso falar.
Ainda que eu cumpra todas as regras do bom senso em não citar nomes, há pessoas que se sentem protagonistas das minhas palavras, tomando para si a carapuça. O mais inusitado, enxergam seus nomes onde eles não estão presentes.
Eu não posso falar porque qualquer coisa que eu fale sou processada e, ainda que os processos sejam arquivados por falta de consistências há pessoas que pagam advogados para reabrirem os processos para terem a satisfação de me ver sentada no banco dos réus.
Eu estou serena, tranquila.
Eu não tenho meu derriere preso a nenhuma coisa ou persona.
Um dia perguntei ao meu saudoso pai por que o mal sempre vencia e ele, em sua sabedoria, me respondeu que o mal é mais destemido e o bem é silencioso, delicado, romântico. Acrescentou ainda que, pessoas más sempre serão más, as ardilosas sempre serão ardilosas, as corruptas sempre praticarão corrupção, porque faz parte da essência de cada ser.
O generoso é tido como tolo. O esperto é tido como inteligente.
Mais profundamente, naquela calma que ele tinha, dizia: o mundo é mundo e a vida é assim.
Os bons se retraem e os maus triunfam e prosperam, mas só por um tempo.
Para finalizar, ele me olhava bem sério, e com firmeza repetia – NÃO MUDE, MINHA FILHA! NÃO MUDE!
Eu tinha apenas oito anos quando tive esse diálogo com meu pai.
Nesse dia tinha chegado toda ralada da escola, por conta de uma garota, chamada Ana Lúcia.
Ana tinha pego uma redação minha, na qual eu pedia à professora para escrever mais devagar, no quadro negro, porque eu não enxergava direito e escrevia mais lentamente. Ela mostrou para a classe toda. Riu de mim e na saída da escola me empurrou. A rua era de terra batida. Escorreguei e me ralei toda. Cheguei com o uniforme todo sujo, óculos quebrado e machucada, por dentro e por fora. Nesse dia meu pai me ensinou essa lição. Fiquei dois meses sem óculos, pois o dinheiro era escasso. Ana Lúcia não foi punida, ou melhor, depois de alguns anos ela seguiu para outra escola, outro bairro e eu nunca mais a vi.
Depois de 51 anos, coisas muito parecidas me acontecem.
São ciclos da VIDA…
Enquanto alguns deles se fecham, outros se repetem como um loop. Uns a gente supera e outros nos machucam, mas a gente segue na certeza de que, em algum momento, essas pessoas mudem…
Hoje acordei me perguntando como estará Ana Lúcia?