EU SÓ QUERO ESCREVER…

Eu só quero escrever…

Deixar gravado e cravado, em palavras, o menino que voa com as asas feitas de sonhos ou a bailarima que percorre mares com a ponta dos pés.

Quero deixar escrito, para que não se esqueçam, sobra a mulher que borda os poemas feitos pelo seu amor, em delicado tecido, cheio de cores e adornos.

Escrever mil vezes, sobre as mil e muitas noites, onde as criaturas mágicas descem das dimensões desonhecidas e nos abraçam demoradamente, entre pérolas e cristais, formando fractais infinitos que se arrastam pelos dias, tornando tudo menos sombrio.

Desenhar, ainda que seja em garatujas, os castelos construídos, inocentemente, pelas crianças.

Rascunhar cenários fartos em flores, em aromas e em sabores – sensações inexplicáveis que brotam dos lugares que desconhecemos, dentro de nós.

Eu quero apenas escrever, sobre os elfos que nem todos acreditam que existam… sobre as fadas e as bruxas e o convívio equilibrado entre o bem e o mal.

Escrever!

Quero escrever como um ato de fruição sem culpa e sem medida, caindo todas as paredes em grandes telas, tão alvas quanto a bondade… a generosidade… a leveza que nos faz volitar suavemente, entre o silêncio e os momentos necessários de solidão.

Escrever sem métrica, sem conceitos, sem o aborrecimento da língua e seus movimentos musculares e frenéticos, mas delineando cada palavra com responsabilidade e precisão, com a mais pura e legítima construção humanística, sem auxílio de artificios tecnológicos que degeneram aos poucos o pulsar do coração.

Escrever para que saibam que a máquina é feroz e que muitos se deixam engolir por ela.

Quero somente escrever, como meiga donzela, que do alto da sua torre observa o mundo em movimento, mas que nunca se omite diante das suas mazelas.

Eu quero só escrever…

Escrever desde o primeiro sopro até o último suspiro, como forma de alento, placebo, descabimento, desconhecimento.

Quero tão somente escrever, para depois apagar tudo, para não causar aborrecimentos.

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