SENHORA CERTINHA – Denize Ribeiro

Tempos atrás me surpreendi com um vídeo de uma escritora, enviado para mim, com a declamação de um poema escrito por mim. Eu que sou dada a mimos e purpurinas achei incrível e generosa a disponibilidade da escritora que até então não conhecia. Mas a tecnologia ao mesmo tempo que nos traz assombros também nos brinda com atitudes maravilhosas e nos dá oportunidade de conhecermos pessoas maravilhosas.

Denize arrasa na LITERATURA cotidiana, simples, brejeira e tão complexa e sensível, pois essa SENHORA CERTINHA descreve o dia a dia que passa batido para muitos seres.

Há um mês atrás recebi seu livro que devorei em dois dias.

Com uma linguagem levíssima, Denize Ribeiro relata a vida de uma mãe, esposa, professora, amiga, enfim, uma mulher que vive se olhando e se policiando para encaixar-se na caixinha que a sociedade desenhou para os seres femininos.

Um apanhado de crônicas, aparentemente despretenciosas, só que não!

Usando o artifício do humor, ora comportado e ora debochado, a escritora nos arranca risos e reflexões do cotidiano turbulento que as mulheres enfrentam.

Quem nunca cortou os cabelos bem curtérrimos achando que seria libertador e resolveria todas as situações caóticas?

Quem já andou pelo centro da cidade com um par de meias tiradas da máquina de lavar pendurado no bolso da calça jeans?

Quem já saiu usando um par de sapatos do mesmo modelo só que, um pé de cada cor?

Não quero dar mais spoillers, mas a leitura me fez refletir sobre cansaços, preocupações, responsabilidades que sobrecarregam as SENHORAS CERTINHAS e a coragem e maestria com que elas administram tudo, ainda que muitos não consigam enxergar os pormenores sócio/culturais que envolvem esse cenário.

Um grito que espera que um dia as coisas mudem, que a sociedade seja mais equilibrada nas divisões das tarefas deixando de impor o que é coisa de homem e o que é coisa de mulher.

VIDA LONGA à escritora e muitas obras para nossas leituras.

Respostas de 6

  1. Vida longa e próspera a vc, Malu, pelo texto belíssimo. Dá vontades de ler o livro e, como jornalista que sou, entrevistar essa autora interessantissima. “Mulheres boazinhas vão para o céu, as más vão a luta.” Parabéns.

  2. A luta pelas mulheres por igualdade de direitos ainda tem sido conquistada arduamente. Os homens não pediram (e muitos, penso que a maioria, não queriam) essa mudança. Somos nós que, a duras penas, estamos tendo que lutar também por uma mudança dos homens no cotidiano dos afazeres da vida doméstica, por grande parte deles ainda não ter se tocado que também é de sua responsabilidade. E na vida pública e social, precisamos nos livrar das amarras das imposições estéticas que nos aprisionam em padrões que alguém – sabe lá quem – ditou ser a regra. A insatisfação capitalista gerando consumistas de um ideal inalcansável.

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