NA VARANDA DO TEMPO, SENTEI E CHOREI…

Chorei as lágrimas
que meu coração não sentiu.
Caíram frouxas, mas densas,
prostrando-se vorazes ao chão,
cheias de lamento e com pena de mim.
Mostraram-me um fosso,
onde a lama caía em bicas.
Pousaram quentes nas feridas
e lavaram a minha mão.

Chorei o éter,
volátil, fugaz…
Efêmero como a vida
e leve como as penas da ave,
gaivota livre, suspensa no ar.

Chorei a noite
e todas as suas estrelas vermelhas.
Manchei a lua…
Sujei o céu tão belo e lilás!

Chorei o gosto,
a cor,
o sabor…
As dores e os odores.

Chorei o sol.
Banhei as pedras, na beira do rio.
Morri de frio.
Aqueci-me à lenha
gravetos soltos em mim…

Chorei a escuridão
das solidões vazias,
que aderem à alma
no limiar do meio-dia,
onde a sombra que reflete
só pode ser vista de maneira atroz.

Chorei a saudade,
os afetos perdidos,
os desejos esquecidos…
A colcha branca
das noites de paz.

Chorei a miséria
dos sonhos em pedaços,
espalhados pelo regaço
de quem nunca me abraçou.

Chorei a febre
que arrepia a pele
que cola feito musgo…
Que alimenta o gelo
das fogueiras íntimas.

Chorei rimas
e poemas…
Diademas nos meus olhos distantes.

Chorei morte!
Chumbo…
Cortinas de violências,
carências e falências,
dos órgãos que passeiam pelo meu corpo,
nem vivo… nem morto!

Chorei num horto,
escondido nos vãos dos meus dias.

Chorei tudo o que dentro de mim havia.

Por último, chorei a alegria.

E quando achava que não restava mais nada para chorar,
lágrimas britaram d’algum lugar, mas estas eram de emoção…

Estas eu sempre hei de chorar!

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